sexta-feira, 14 de março de 2008

Em defesa da Teoria da Jucicreide

Não, a Jucicreide não formulou teoria nenhuma, ela é o objeto de estudo em questão. Não, eu também não conheço Jucicreide alguma, nunca vi nem mais gorda. Também não se trata de nenhuma pesquisa sobre obesidade, o foco da Teoria da Jucicreide é o seu nome. Estou aqui para fazer coro à reivindicação de Bozolina Doe para que as pessoas batizem seus filhos com nomes e não com criativas invenções ridículas.

Não sei bem quando começou essa mania de querer ser original na hora de batizar seus filhos. Na minha cabeça, antigamente as pessoas se chamavam José, João, Maria, Joaquim, sei lá. Enfim, nomes para pessoas. Talvez meu pai, um anti-estadunidense nato, um caipira esclarecido, diga que isso começou com a invasão cultural norte-americana em nossas terras tupiniquins. Quando o primeiro "Clark Gable da Silva" foi registrado em algum cartório de um cu-de-judas qualquer deste país, a merda já estava feita.

Ao falar em nomes ridículos, é praticamente automático se pensar em casos esdrúxulos como o "Um Dois Três de Oliveira Quatro" e a "Maidenusa" - corruptela de "Made in USA", este último confirmando definitivamente as idéias do meu pai. É culpa dos americanos. Pau neles.Também tem aquela mania de juntar o nome do pai e da mãe, como se nome fosse uma coisa que se formasse a partir de um 24º par de cromossomos imaginários. O meu pai tem um 'causo' emblemático, perfeito para a ocasião. O pai se chamava Clementino, a mãe Creuza. Resolveram batizar o rebento com uma mistura dos nomes. Advinha o que deu? (Resposta no fim do textículo*)

Os nordestinos, coitados, levaram a má fama de ter mau gosto na hora de batizar os filhos. Eu, como filha de uma, protesto. Meu bisavô escolheu o nome de praticamente todos os netos, e nomes bonitos. Minha mãe se chama Elisabete (isso mesmo, grafado com "s" e "te" no final), minha tia se chama Cecília, um nome adorado por Bozoca. Minha avó se chamava Irene. Nomes de gente, nada de Jusivaldo, Estrongoberto ou Sinusvânia. Há também alguns nomes diferentinhos, a única Ediluze que eu conheço no mundo é a minha tia e madrinha. Mas nada se compara à Estufagnauer. Gente, este nome existe!

Imagino que esse modismo de escolher este festival de bobagens americanizado para nomes dos filhos começou justamente para fugir dos tradicionalíssimos Raimundo, Severino e Nonato. Para fugir do estigma de nome de porteiro, dá-lhe um "Michael Stepheen", mesmo sem saber pronunciar. Em vez de "Maria Aparecida", vamos de "Marylin Victoria". Nomes fortes, praticamente uma bordoada no lugar da certidão de nascimento. Como nem tudo na vida é perfeito, moda agora é por estes "nomes de velho" nos filhos. Angélica batizou seu primeiro filho como Joaquim. Palmas pra ela. Evitou mais um "Maicow Jordan de Souza" no mundo. (Definitivamente, não estou inventando. Tirei essa pérola de uma conversa com um cara que eu conheço, justificando o nome do filho, obviamente, cafona e mal-escolhido. Ele disse que só rico batiza os filhos com "nomes de velho", porque fica "pra eles é chique", mas que pobre precisa de 'nome forte', porque se chamar "Zé", tá ferrado, vira zé-ninguém. Ai, Céus, quanta bobagem.)

Então, de uma coisa todo mundo sabe, mesmo que às vezes de uma maneira meio torta: dar um nome a alguém é praticamente dar um destino. Nome é coisa séria. Por mais que digam que gosto não se discute, quando assunto é dar nome pra gente, assim, com cabeça, tronco e membros, há que se ter um mínimo de bom gosto e senso estético. Se você por um acaso tiver uma vontade louca de criar ou usar um nome estranho, que compre um cachorro ou faça como eu e batize seus objetos. Minhas mochilas, sempre da Risca e roxas, formaram uma dinastia de "Roxonildas". Meu violão se chama Astrogildo, e ele nunca reclamou. Meu primeiro celular se chamava Segismundo, em homenagem ao protagonista da peça de Calderón de La Barca.

Bozoca defende sua teoria sobre o tema com uma pergunta impagável, que de certa maneira batiza este Textículo: "Qual as reais chances de uma pessoa chamada Jucicreide ter um destino brilhante na vida? Praticamente zero." Pode até soar reacionário, sectário até. Mas não dá pra discordar de Bozolina Doe, tanto que me convenço cada dia mais que as pessoas tem que ter os nomes mais simples e comuns possíveis. Quando a República dos Flamingos dominar o mundo, vamos copiar Portugal. Lá as pessoas só podem ser batizadas com nomes que realmente existem numa lista, e somente pertencentes ao nosso vernáculo. Lá minha mãe se chamaria Isabel em vez de Elisabete, por exemplo, porque as versões estrangeiras dos nomes são proibidas. Elisabete ou Isabel dá praticamente na mesma, os dois são bonitos. O que eu queria ver se haveria este festival de "Stéphanies" que a gente vê por aí, se essa lei pegasse por aqui, já que a versão em português deste nome é "Estefânia". Du-vi-de-o-dó!

Além do Festival de Bobagens em forma de certidões de nascimento, a gente tem que agüentar também mil grafias diferentes e ridículas para os mais simples nomes, a ponto de esquecerem a grafia correta e original. "Caíque", por exemplo, já vi escrito de tudo quanto é jeito e nenhum coloca o acento que a palavra pede. Meu amigo Gazela sempre chia se escrevem seu nome com o "h" que a princípio não existe na palavra "Tiago". Detesto quando escrevem meu nome sem acento. "Flávia" é paroxítona terminada em ditongo e por isso, precisa ser acentuada. Forest odeia quando o chamam de Felipe, seu nome é com 'i', como está na Bíblia. Engraçado que a gente reclama, e parece que é a gente que está inventando. Eu, hein?

Meu pai também reclama dessa mania de o povo colocar o nome dos filhos com trocentos 'enes', não sei quantos mil 'ipsilón', mais não sei quantos "agás". É que pra escrever dá um trabalhão. Só que, quando o assunto é nome, Seu Teodoro também não é inocente. Queria me batizar como Dejanira! Já pensou eu com nome de marca de sandália? Minha sorte é que minha mãe não gostou nem um pouco e meu pai não resolveu fazer uma traquinagem com ela na hora de me registrar. E eu sou tão bozo que minha irmã mais velha tira troça de mim por causa de um nome que nem chegou a ser meu, imagina se fosse. Perdôo meu pai porque com o resto, ele acertou em cheio. Além de Flávia, temos Cristiane e Renata. Pensa só, a Cris nasceu no Natal. Em vez de Natália, poderia ser Natalina. Ai, que meda.


Por hoje, é só, pessoal! É pra mim mesma esta cambalhota. Quem quiser pode assistir, quem quiser que faça outra!


*Ah, antes que eu me esqueça. O resultado da mistura infeliz é "Cretino
".

4 comentários:

Unknown disse...

esse texto da para fazer varios comments....
na HUngria( terra de meu pai) so se pode usar nomes biblicos. o que ja ajuda bastante.
qto a nomes estrangeiros a escola publica eh uma fonte inesgotavel deles..... michael jorda, maick, mike, maique, etc... tenho uma lista deles. se quiser posto aki.

outra voce esqueceu de postar o noem dos filhos advindos no casamento de Dona Quer0quero, com o sr. Pica -pau.
vale a pena um PS.
e so para assissanar esse comment.
Helgha WeiB(ss)Füder.
bjkas

Frida f5 disse...

Os filhos do casamento da Dona Quero-quero com o Sr. Pica-pau? Ah, claro!!! "Quero-pica" e "quero-pau"...Jé-sus!

Unknown disse...

Chu, todo tipo de crise de riso me assalta lendo esse post. Já vim aqui umas quinhentas vezes desde que você o publicou.
´"Flávia" é paroxítona terminada em ditongo e por isso, precisa ser acentuada. ´ Isso está demais!
Eu penso o que seria de nós se pudssemos atirar essa metralhadora verbal publicamente. Não teríamos mais do que algumas hora de vida restantes, rsrs.
Bitoquinhas,
Xayenny Roquiçani.

Frida f5 disse...

Xayenny Roquiçani!!! Jésus, nãó parece nome de princípio ativo de remédio? Agora me lembrei de outra, a mulher se chamava Roseli.Quando se mudou para Sampa, resolveu modernizar seu nome e pediu para ser chamada de "Rosélis". Finlandês quando quer bancar o moderno fica pior ainda!!!
Ass. Astrogilda Pafúncia!