quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vinte e poucos anos blues


Eu levo meu signo solar às últimas conseqüências. Não contente em ser uma balança, sou uma gangorra emocional. E vejo todo o mundo à minha volta brincando nessa gangorra em alta velocidade. Ainda assim, conseguem ver um pouco de estabilidade em mim, nesta libriana enlouquecida que vos fala. Ou então, misericórdia. Descobri um talento de “Madre Teresa Emocional” em mim.

O que está acontecendo com nós todos, na casa dos vinte e poucos anos? Tudo tão à flor da pele, como se fôssemos adolescentes ainda. Com o agravante de termos uma consciência agora que nessa época não tínhamos, sem espaço algum para alegar inocência. Ainda assim, o somos. Quem tem culpa?

Não há mesmo consciência sem dor. A gente chora, ri, gargalha, explode e tudo isso dói. E quanto maior a dor, maior o êxtase. Fugindo da dor, o prazer também vai embora. Os dois vêm no mesmo pacote, numa espécie de ‘venda casada’ do Universo, este fanfarrão megalomaníaco.
Precisamos conviver com a dor da dúvida, mesmo precisando saber onde vai dar essa gangorra que desafia as leis da Física continuamente. (Certeza é coisa pra doido. Esta é uma das poucas que tenho.)

Descemos pro play, agora não tem escapatória. Vamos brincar até o último minuto de sol.

domingo, 6 de abril de 2008

Sobre João Hélios e Isabelas

A grande mídia é uma grande merda também. Cada dia é um espetáculo novo, e quanto mais sangue e horror, melhor. Será que não saímos do Império Romano? Costumo dizer que o lema do Império Romano sempre foi imcompleto: não é só Pão e Circo para manter o povo quieto, deveria ser "Pão, circo e sangue". Ou então esqueceram de contar que o circo era sangrento. Quem duvida disso é só lembrar que diversão de romano era jogar cristão na arena para os leões, ver dois trogloditas se degladiando até a morte e ainda os mimos, os bisavôs do Happy Tree Friends feito com gente de verdade.
Neste Império Romano e midiático, estão aparecendo aos montes os piores crimes contra crianças e adolescentes. Adolescentes acorrentadas, Isabelas atiradas, João Hélios arrastados. É impossível não se perguntar para que serve a porcaria do ECA e seus respectivos Conselhos Tutelares.
(Essa piada velha eu preciso explicar: no professorado às vezes rola uma impressão, algo que nem sempre é falado abertamente, que o ECA só serve pra tolher o trabalho do professor e para os menores folgados em questão dizer na sua cara que você não pode fazer nada contra eles. "Eu sou dimenor!!!", eles falam. Hahaha, comigo não, violão. Cansei de dizer: "Ah, é? Vai agora no Conselho Tutelar me denunciar, mas vai agora, tá?" Como eles não sabem se isso é de comer, de encaixar ou montar, eles deixam pra lá. Touché!
Baideuéi, preciso explicar também que esta falta de limite deliberada é um perigo, porque é uma porta aberta para cada vez mais e mais regressão. Eu não quero sentir falta da palmatória, até porque, graças ao Barbudão, isso não foi usado comigo. E pasmem vocês: se alguém experimentar pedir a opinião da molecada sobre essa falta de limite na educação deles próprios, vocês vão ver as respostas mais conservadoras, algumas até reacionárias. Fico bege de pensar na possibilidade de meus alunos serem mais caretas que eu.)
Voltando à arena do Coliseu, volta e meia o contrário também ocorre. Um menor comete um crime terrível, e a burra unanimidade começa a discutir se não era hora de reduzir a idade penal, porque o ECA só serve pra proteger bandidos da periculosidade do Champinha, e bláblábláraçãowhiskasblábláblá. A outra parte da unanimidade burra, por sua vez, diz que os coitadinhos não tem culpa, a culpa é da pobreza. É, só se for dos pobres, na cabeça de Veja desse povo. Sérgio Adorno, sociólogo estudioso das questões da violência já afirmou categoricamente: a violência urbana é fruto da riqueza, e não da pobreza.
O que ninguém diz, por falta de informação ou coragem, é que a violência contra nossos jovens, crianças e adolescentes vai além das histórias conhecidas, que o índice de homicídios de tendo jovens como vítimas aumentou assustadoramente nos últimos anos. Vítimas anônimas, as quais ninguém mais chora além de suas mães. Ninguém fala também que, dessas vítimas anônimas, boa parte não estava metida com o tráfico, ou devendo pra eles. Muitos apenas estavam no lugar errado em hora mais errada ainda.
Tudo isso já me assusta muito, pela natureza dos fatos. Eu também me pergunto: "De quantos paus se faz um ser humano?". O que me assusta muito mais é o tratamento dado a eles pelo senso comum e pela "grande mídia". Aquilo que a gente vê na televisão não pode ser chamado de realidade, não chega a ser nem um recorte dela. São como reality shows: só tem show, realidade mesmo não tem.
Choro por todas as vítimas, espetacularizadas ou não. Choro mais ainda porque este mundo que os matou não dá nenhuma pista que vá mudar tão cedo. Muito pelo contrário, vamos regredir ainda mais, até não ser possível mais distinguir quem é humano e quem é porco, sentados à mesa, na sala de jantar, preocupados em nascer e morrer. Morrer, principalmente.