segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mr. America

A esta hora já devem jorrar resenhas e postagens sobre a exposição Andy Warhol - Mr. America, porque ela está totalmente coerente com o artista que ela retrata - mais pop, impossível. Mas quem disse que a Garota Clichê vai resistir e andar contra a corrente?

Confesso que estava ansiosa para ver os originais da série das latas de sopa Campbell´s e dos retratos da Marilyn Monroe. Então, na última quarta, assim que saí da Sala São Paulo, tive a "brilhante" ideia de ir até a Pinacoteca para ver a exposição. "Mas aos sábados a entrada é franca...", pensei. "É, mas nada paga o prazer de circular pelas salas vazias da exposição em plena tarde de quarta-feira...", respondi a mim mesma. Ódio extremo e absoluto ao saber que a exposição não está na Pinacoteca e sim na Estação Pinacoteca, ex-Memorial da Liberdade, sediado no antigo prédio do DOPS, que se tornou um anexo da Pinacoteca do Estado. Detalhe: este prédio fica DO LADO da Sala São Paulo, onde eu estava. Pensa então, na minha cara de tacho...

Estando lá dentro e com três míseros reais investidos nisso, não desisti e dei uma olhada nas exposições da Pinacoteca. E curti vários Portinaris sorvidos lentamente. Só mudou o artista, oras! Não tinha me enganado por completo. Museu deserto é uma delícia, ainda mais com Portinari.

De qualquer maneira, sábado estaria de volta à Sala São Paulo e visitei a exposição do Andy na hora do almoço, para honrar a viagem perdida de quarta.

Sempre gostei de pop art e não me lembro com exatidão quando entrei em contato com as obras do Andy pela primeira vez, só ficou gravado na memória um grafite da Tomato Soup, da série Campbell´s numa parede do Tendal da Lapa. Será que ainda está lá? Não sei, só espero que os grafites deste lugar não tenha sido tragados por paredes bege cor-de-repartição pública. Eca.

Achava que isso não aconteceria, mas a exposição me trouxe surpresas. Por exemplo, não sabia que o artista era religioso - católico ortodoxo e segundo os textos da exposição, seus refúgios foram sempre a igreja e as salas de cinema. Também desconhecia que a morte estava entre seus temas recorrentes. As famosas serigrafias do rosto da Marilyn Monroe foram feitas após a morte da atriz, já transformada em mito trágico, sem contar a série das Cadeiras Elétricas, dos Most Wanted Man, com os criminosos mais procurados da América e Car Crash: Death and Disaster Series, retratando acidentes de carro cheios de lata amassada e gente morta no asfalto. Engana-se quem pensa que Andy se contentava só com glamour e celebridades.


Na verdade, sua obra parece bem contraditória, quase conflitante. Entre autorretratos, latas de sopa, nuvens prateadas e artistas de cinema, há alguma coerência? O fato é que ele não estava preocupado em ser coerente com coisa alguma. Ele dizia apenas retratar o universo a seu redor e não se considerava crítico da sociedade norte-americana. Mas o que e como mostrar implica sim em crítica, no sentido mais puro da palavra. O olhar de Andy sobre a America que ele dizia amar era naturalmente subversivo, sem levantar bandeiras. Polêmico sem fazer força.

Mesmo sua fixação pela beleza e pelo narcisismo tem outra face. "Quando pessoas e civilizações se tornam degeneradas e materialistas, elas sempre apontam para sua beleza externa e riquezas, e dizem que se o que elas estivessem fazendo fosse errado, elas não estariam tão bem, tão ricas e bonitas. Mas beleza e riquezas não tem nada a ver com o quão bom é você, é só pensar em todas beldades que tiveram câncer. E muitos assassinos são bonitos, então isso resolve a questão."

Ele olhou para a "beleza americana" com reverência e deboche ao mesmo tempo. "Be a somebody with a body!"¹

Marlene Dietrich dizia que na América o sexo é uma obsessão e no resto do mundo, é um fato.² Para Andy, não é nem uma coisa, nem outra. "Sex is an ilusion. The most exciting thing is no making it"³. Um de seus filmes é intitulado Blow Job (boquete) e o que mostra não é óbvio ou surpreendente, fica entre as duas coisas.

Andy também se sairia um ótimo analista: "A fonte dos problemas das pessoas são suas fantasias, se você não tivesse fantasias, você não teria problemas, porque você aceitaria qualquer coisa que estivesse na sua frente. Mas aí, você não teria romance, porque romance é encontrar sua fantasia em pessoas que não são sua fantasia..."

Apesar do mundaréu de gente, me diverti bastante com a exposição, porque a criança contente aqui estava aproveitando para brincar com seu brinquedo novo, fazendo anotações no Bloco de Notas do smart, já que tirar fotos é proibido. Isso até o negócio empacar e eu me irritar, sem saber porque aquela joça não funcionava. Só depois que eu percebi que o limite de caracteres tinha acabado. Andy riria desse besteirol tecnológico, todo mundo está colocando sua vida nessas coisinhas de plástico, que por mais inteligentes que pareçam, ainda não aprenderam se fazer entender.

É chavão que Andy Warhol estava a frente do seu tempo, só por causa daquela frase idiota que qualquer pessoa teria 15 minutos de fama no futuro - ele disse frases muito mais espirituosas. E a unanimidade - burra, como diria Nelson Rodrigues - só celebra essa frase porque ela se tornou uma profecia, em um tempo de Big Brothers, orkuts e facebooks para todo mundo expor sua vida à exaustão, chegando, muitas vezes ao ridículo. (Se há dúvidas, olhe blogs como Pérolas do Orkut ou PGA, ou ainda as fotos da Geisy pré-bafão na Uniban. Se queriam aparecer, conseguiram!). Mas o que Andy retrataria em sua obra, se vivo estivesse agora? E se vivesse no Brasil? Saí de lá com essas perguntas na cabeça. Tenho alguns palpites:

a) Casal Nardoni com julgamento cinematográfico (Popular, você é popular...)
b) Ronalducho Fenômeno
c) Barack E Michele Obama
d) Lixo tecnológico
e) Canções de uma palavra e uma nota só cantadas por apenas uma parte do corpo, como créus, rebolêixons e merdas parecidas
f) Cantoras de axé que se acham, tipo Claudia Milk e Ivete Frangalo. Alguém ainda aguenta ver a cara delas?

E por aí vai. Apareçam na exposição e façam suas apostas!

Andy Warhol - Mr. America. De 23 de março a 23 de maio na Estação Pinacoteca. Aos sábados, entrada franca.

Portinari na Coleção Castro Maia. De 10 de abril a 06 de junho de 2010 na Pinacoteca do Estado. Aos sábados, entrada franca. (A exposição que eu vi na quarta passada)


Notes:
1- Seja alguém com um corpo.
2 - In America sex is an obsession, in other parts of the world it is a fact.
3 - Sexo é uma ilusão. O mais excitante é não fazê-lo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Antes que vire um latifúndio improdutivo...

...Estou aqui para dizer que ainda estou viva, e bem viva - que fique bem claro. Não me falta inspiração e nem temas para textículos. Nesse meio tempo, assisti o show do A-ha e do B.B. King, e isso não é pouco. Assisti a O Segredo dos Seus Olhos, sensacional produção argentina que mereceu o Oscar de melhor filme estrangeiro. Não se consegue desgrudar os olhos da tela, enquanto se assiste a um filme desses.

Vida é o que não me falta neste momento. E também não me falta tempo para parar para registrar o que ando vivendo, tampouco estou vivendo no automático. É que estou pouco interessada em racionalizar, e para escrever isso é necessário. Estou também sem paciência para sentar em frente ao computador, a não ser para jogar Paciência, o que sempre me falta. Fazer o quê? Paciência.

Estou cansada também de clichês internéticos, em que se vive a vida real para se ter uma vida virtual, para ter o que postar no Twitter, Facebook, Orkut, na frasezinha do MSN. Aprendi assistindo a Closer (peça e filme) que nem sempre é necessário saber tudo sobre os outros. Nem sempre é necessário saber tudo sobre mim. Eu estava assim com os TM. Durante os shows, filmes, baladas boas, ou coisas do tipo, eu ficava maquinando frases, esquecendo-me de viver lá, no exato momento da coisa. Não me pergunte, por exemplo, como foi o show do B.B. King. Só sei que foi do caralho, só não sei bem como. Sofri o mesmo teleporte dos melhores shows da minha vida, como o do Radiohead, por exemplo. "Não sei, só sei que foi assim", diria o Chicó numa hora dessas. Pergunte a meu duende, se for muito necessário saber.

And so it is, guys. There is so much to say, and even more to live.