quarta-feira, 28 de julho de 2010

Demais

Muito pano para um corpo pouco,
Pouco fôlego para um grito rouco.


Muito livro para pouco olho,
Muita música para um ouvido torto.


Água demais para um café ralo e fraco.
Tanta inspiração e um talento parco.


Muita máquina e muita técnica
Para pouco cérebro e pouca ideia.


Muito gemido para pouco orgasmo.
Pouca piada para muito sarcasmo.


Muito regime e pouca gordura.
Muita pose e pouca ternura.


Pouco cão, muito latido.
Muito verso para pouco sentido.


Falta tempo, falta gana;
Falta tesão e falta grana.


Sobra ausência, falta espaço.


Entre o tanto que penso,

E o pouco que faço.
 

sábado, 24 de julho de 2010

O Pequeno Nicolau

Nunca tinha ido assistir a um filme só pelo cartaz. No cinema de hoje, em que se pode assistir trailers no Youtube, e talvez nem precise ir até o cinema para ver, com a possibilidade de fazer um download e ver em casa, ou nem fazer o download e assistir em streaming, achava que cartaz só funcionava para moderninhos colocarem na parede ou fazerem camisetas de filmes icônicos como Pulp Fiction, Matrix, ou Laranja Mecânica. Lembro de uma vez que saí do cinema e havia o cartaz de "Uma noite no museu", com uma estátua de um suposto homem das cavernas. Se você passasse do lado, ele pulava na sua frente. O negócio era tão engraçado que a gente sentou no saguão do cinema só para assistir o susto dos passantes.

O fato é que um bom cartaz ainda funciona. Na fila de outro filme, vi este e achei engraçado estes meninos com nomes de velho, terninho, calça curta e cara de Mad - lembra da revista? Pois é, fiquei curiosa e fui conferir.

Hoje em dia, há animações tão boas no mercado de filmes para crianças, e agora em 3D, que é raro encontrar bons filmes "de verdade" com temática infantil. "O Pequeno Nicolau" é a adaptação de uma série de livros francesa do escritor René Goscinny com ilustrações de Jean-Jaques Sempé que eu também não conhecia.

Nicolas é um menino comum, que adora sua vida de filho único em uma família pequeno-burguesa parisiense e estuda em uma escola só para garotos. A possível gravidez de sua mãe é a ameaça para sua vida perfeita, ele sente medo de ser abandonado na floresta e faz de tudo para se desfazer desse bebê que nem existe de fato. A partir daí, é uma trapalhada atrás da outra, dele e de seus amigos.



Ri litros com as cenas de escola. O filme se passa nos anos 1950, tanta coisa mudou na família e na infância desses tempos para cá, mas é incrível como outras não mudam. A educação continua sendo um misto de martírio com sadismo. Pobre daquela professora.

Apesar dos moleques serem umas pestes, o filme é realmente muito bonitinho, singelo, sem duvidar da inteligência e perspicácia da garotada. Para adultos, nos lembra que a criança tem seu próprio universo, mas que não está dissociado do mundo em que ela vive. Os medos infantis - como o do abandono, por exemplo - podem ou não ter fundamento, mas dentro do seu universo são verdadeiríssimos. A gente já sentiu esses medos, alguns destes nos acompanham a vida toda, mesmo que a gente não admita. Se isso fosse mentira, Freud não teria causado metade do frisson que causou.

Gostei tanto que estou pensando levar meu sobrinho mais velho para ver, que há um ano deixou de ser filho único. Só tenho medo que ele se inspire a contratar um gângster para tentar se livrar do irmãozinho. Vai saber!

sábado, 17 de julho de 2010

Besta é tu

Na estreia oficial do In-pessoa, o já antológico "Live at Forest´s House - Tormenting the Neighborhood", aconteceu um negócio curioso, sem deixar de ser corriqueiro. Folheando a Rolling Stone deste mês, cai nas mãos do Renato a reportagem sobre "o melhor disco da música popular brasileira", o Acabou Chorare (Novos Baianos, 1972). E ele desce a lenha, não exatamente no disco, mas nessa mania de pegarem de tempos em tempos alguma banda brasileira para Cristo, não para crucificar, mas para fazer de O Novo Messias da MPB.

Concordo com o Renato - é um verdadeiro porre esses críticos disfarçados de Indiana Jones o tempo todo caçando o tesouro da música brasileira, quando na verdade, ninguém devia levar muito a sério estas listas. Podem ter algum fundo de razão, mas eleger um único disco como representante da brasilidade musical equivale a procurar agulha no palheiro. Lembro de coisas tão distintas quanto Chega de Saudade (João Gilberto), Elis e Tom e Da Lama ao Caos (CS& Nação Zumbi) serem alçados a este posto.

Aliás, faz algum tempo que desisti do rótulo MPB. Como todo rótulo para arte, é arbitrário e reduz mediocremente o que tenta rotular. Olha só: música brasileira pode ser samba, choro, coco, maracatu, carimbó, xote, manguebeat, guitarrada, lundu, maxixe, fora os ritmos vindos de fora e incorporarados ao nosso repertório e a infinidade de ritmos nacionais que ficaram de fora destas linhas. E MPB, o que é? Chico, Caetano, Gal e Betânia. E o rock brazuca dos anos 80, não é Música, Popular e Brasileiro? E essa "nova MPB"? Colocar Maria Gadu ao lado de Chico Buarque na mesma prateleira é uma coisa tão esdrúxula que só o Nelson Motta mesmo para fazer e tentar nos convencer que é jóia! Troféu Joinha para ele.

Mas não deixo de adorar o Acabou Chorare, tanto que graças à reportagem da RS e o desabafo nervoso do Renato, eu lembrei de baixar para matar a saudade. Em 2005, assisti no SESC Pompeia a um show que reproduzia o álbum na íntegra com gente muito diferente tocando junto, o que literalmente botou abaixo a plateia do teatro. Todo mundo desceu das cadeiras e caiu na dança!

Antológico, divertido, e ainda honrou o original. Direção musical de Rômulo Fróes. A Baby fez o papel de testemunhar que toda aquela loucura aconteceu de verdade um dia, e até esqueceu um pouco das suas crentices. Lanny Gordin, genial guitarrista, fez as vezes de Pepeu, já que foi seu primeiro mestre. Davi Moraes, que também foi morador daquele sítio lisérgico, representou o pai Moraes Moreira. Lampirônicos exerceram a função da Cor do Som, o conjunto dentro do conjunto. Elza Soares e Luiz Melodia também estavam lá.

Quem ouvir somente o disco, ignorando o blá-blá-blá da crítica, com certeza vai gostar. Simplesmente porque é vibrante, alegre, criativo. Tem raízes brasileiras, mas também é rock n´roll, como em Um Bilhete para Didi. Gosto do timbre jovem e anti-virtuosísitico da então Baby Consuelo em Tinindo Tricando e A Menina Dança, da delicadeza de Acabou Chorare, da doideira de Mistério do Planeta e Swing de Campo Grande. Também tenho uma ligação sentimental com Preta Pretinha, porque lembra meu apelido de criança, Preta. (No caso, meus cabelos.)




Imagino que quando essa galera maluquete se reuniu, eles não pretendiam genialidade. Nesse ponto, todas as bandas (pelo menos as bacanas de se ouvir) são iguais: só querem saber de tocar e se divertir. Quem coloca a vontade de ser aprovado antes da vontade de fazer música, se lasca. O reconhecimento, da crítica ou do público, vem como acréscimo.


Então, um grito para a crítica: Besta é tu! Deixem as pessoas saborearem sem análises prévias!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Metablogagem Reloaded

Esta dona de textículos é mesmo muito da "abestada". Como qualquer um, que com um blog na mão e qualquer ideia frouxa na cabeça vira de crítica de arte a it girl, eu só me meto a besta sem culpa por não ser nenhum geniozinho porque eu avisei desde o início: é para mim mesma essa cambalhota. Quer quiser pode assistir, é bem vindo.

Ultimamente só tenho feito textos sobre música, até acho que dão bem para o gasto. Mas eu vejo os textos de Skylab e fico brocha! O cara manda muito bem e muita gente pensa que ele só sabe matar passarinhos. Recomendo uma passada lá (godardcity.blogspot.com). Mas não é para brochar não. Afinal, século XXI é isso: não passamos de um bando de exibicionistas/voyeurs e todo mundo pode ser paparazzi, celebridade, escritor, músico, filósofo, mesmo que isso signifique brincar de tudo isso ao mesmo tempo, sem precisar ser de fato. Exceção é o nosso matador de passarinhos, afinal ele tem propriedade de sobra para falar sobre o que ele fala. Por isso, é bom visitar o cara, quem sabe a gente aprende.

Tentei, numa tentativa bem pouco convicta, tornar estes TM uma celebridade internética. Quem sabe não ganho um programa na MTV também? Segui as dicas da matéria sobre blogueiras de "sucesso" da edição da Gloss do mês passado, até porque nenhuma era absurda. Não sei se deu certo, mas eu fiquei pensando: para que diabos quero ser celebridade internética? Não tenho paciência para Twitter, texticulo de uma maneira quase bissexta. Para ganhar algum tutu com fazendo uma coisa para mim que é um grande divertimento, talvez. Mas tenho horror só de pensar neste painel alternando Audrey Hepburn e Marlene Dietrich cheio de links de publicidade em volta. Aí cheguei a uma magra conclusão que eu só quero que mais gente prove textículos, mas mesmo assim, é uma conclusão arbitrária. Ué, não era para mim mesma essa cambalhota?

Olha, não sei. Ando tão cansada de mim mesma que tenho feito tudo ao contrário do que eu habitualmente faria. E por um acaso alguém é obrigado a fazer tudo igual a vida toda? No entanto, é inegável a minha falta de talento para fazer das tripas coração para ser notada. Nunca precisei fazer muita força para isso. Não, eu não sou uma beldade de torcer o pescoço da homarada na rua. Mas para gente "normal", eu sou estranha. Tudo bem, perto da Lady Gaga pareço normal. Ai, ficou prolixo.

Então, vamos fazer assim, esquece essa história de celebridade internética. Vamos confiar na teoria do caos, uma hora alguém interessante "me descobre". Se não descobrir também, vou continuar me divertindo. E tenho dito!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Perdeu, playboy

Ninguém gosta de perder, é evidente. Mas, como ensinam os layr-ribeiros por aí, vamos pensar positivo, acertei meu palpite: Brasil pararia nas quartas-de-final. Apostasse eu num bolão teria ganhado. Fué!

Copa do Mundo em ano de eleições presidenciais é totalmente providencial - no mesmo ano em que se escolhem também os governadores e cargos legislativos - aqueles em que as pessoas geralmente não se lembram em que votaram, mas sem se furtar a achincalhá-los de uma maneira totalmente ineficente a cada vez que um deles aparece com dinheiro de propina em cuecas, meias, bolsas, panetones e congêneres. Ou quando vira purpurina, como Clodovil.


Lamentavelmente só agora, as pessoas vão se lembrar disso, até porque o quarto poder vai tirar o foco da Copa do Mundo e voltar-se para as eleições. Mais previsível que um pênalti com paradinha, é fácil cantar essa bola, mas é sempre bom lembrar. Daniel teve o cuidado de dar essa alfinetada mesmo antes de a Copa começar. Rita Lee, no ano de 1998, alfinetou a farofada em torno da Copa com uma canção inteligente e sapeca e acabou sendo profética. A França que o diga:





Fica o refrão: A gente explode se for campeão, depois se f*** na eleição! Melhor o contrário. Nunca é tarde para virar o jogo, não é mesmo, Holanda?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Universo Bufônico de Lady Gaga

Bufão reconhece outro bufão, mesmo a quilômetros de distância. É uma espécie de irmandade o negócio. Algo como a Maçonaria, a Internacional Comunista, sei lá.

Bufões jamais são minimalistas, tudo é exagero. Ou é muito magro, ou muito gordo. Ou é anão ou é gigante. Se não tiver nenhuma protuberância, falta-lhe uma parte do corpo. Não sendo nada disso, pode ser um excluído da sociedade, como mendicantes, putas ou bêbados. Ou somente um serzinho deslocado na galhofa. "Não tenho par nisto tudo neste mundo"...

O universo bufônico não está à parte desse mundo cão. "Os bufões estão à nossa volta. Inspirem-se neles!" - postula o Mestre dos Bufões, Jorge Didaco. Depois disso, vejo bufões a topo tempo. Onde as pessoas veem somente mais um esquisito, eu encontrei mais um bufão para me divertir e me fazer companhia.

Todos têm um bufão na alma, é questão de encontrar. E a experiência para quem encontra é doidíssima: aquele ser é você e é outro. A Susi tem muito da Flávia, a Flávia se exagera na Susi. As duas se necessitam e não se contrapõem.

Stefani Germanotta é Lady Gaga, disso todos já sabem. E o contrário, é também? Há quem diga que ela montou a personagem para entrar com os dois pés na porta no mundo pop, como entrou. Isso parece muito óbvio quando se vê seus clipes, seus figurinos amalucados e atitudes idem. Agora o mais engraçado é que ela está colocando cada vez mais a Stefani na LG. No último sábado saiu no Youtube, uma nova canção da doida, digo, da diva, em que todos disseram que é a melodia é muito mais orgânica, quente, sedutora, totalmente diferente do pop chiclete que tem mostrado. E é, de fato muito mais autêntica, com uma performance ao piano bem rock n´roll, endemoniada.


Em um dos comentários, algum gagaólogo proferiu: "não sei qual é a surpresa, antes de criar a LG, era esse o estilo com que ela se apresentava por aí, é só colocar 'Stefani Germanotta' no Google que vai aparecer." O gagaólogo tinha razão. Desde muito tempo ela mostrava maturidade na composição, segurança na performance, enfim, estava pronta faz tempo. E o bufão já estava lá.



Feinha, nariguda, meio magrela, cabelos "pretos como piche" - segundo ela mesma, uma deslocada, que se trancava no banheiro e copiava makes de estrelas hollywoodianas. Já era um ser estranho. Lady Gaga só veio para dilatar a garota esquisitinha, mas cheia de talento e decisão. Mais montada que dez drag queens juntas, tem o poder de se desmontar e remontar como bem entende.

Olhando por esse ângulo, ela não é tão doida quanto parece. Aliás, é capaz de uma lucidez que só os bufões são capazes de ter. Eu não disse que bufões se reconhecem? Ora pois, se não.

Só pra terminar: Uuuuuuuuuuuuuuh! Lady Gaga!