quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Parte II - O que fazer com o muro?

(Segunda Parte do meu Festival de Bobagens: Sur le non sens (das bobagens): O que se aproveita?)

Neste caso, não é exatamente uma bobagem, muito pelo contrário. Eu estava falando do meu trabalho e da minha pesquisa, mais precisamente de como é difícil persistir em propostas que partem de pressuspostos completamente diferentes do que regem a escola. Mas como estas questões desafiam não só meu intelecto e sim minha vida inteira, eu devo ter falado demais. Feito da aula terapia, por mais que eu não quisesse.

Entendam, não se trata de fazer da aula um Muro das Lamentações. Trata-se de estar fartx de tantos muros, os reais e os invisíveis. Trata-se de o quanto estes muros doem (mais aqui).  E, evidentemente, de nem sempre saber o que fazer com eles. Ou de identificar onde exatamente os muros conceituais estão.

Prof. Carminda, porém, com seu blend de perspicácia com delicadeza e ternura, soube fazer a síntese. Ela disse que quando a gente descobre onde está o muro, imediatamente a gente sabe o que fazer com ele. Esta é a tarefa da minha pesquisa e da minha vida, enquanto professora de Arte de escola pública.

Esta é a primeira tarefa. Muro de Berlim, 2015.

A imagem do muro me afeta profundamente já há algum tempo, e a experiência de ver o que sobrou do Muro de Berlim apenas me fez ver com meus próprios olhos o horror que estes muros representam. E como ainda não aprendemos a eliminá-los.
Primeiramente, Berlim não se desfez completamente do muro. Por onde ele passou, existe uma marca (duas fileiras de paralelepípedos, cortando ruas, calçadas, ciclovias) e às vezes a placa:

A Cidade e suas cicatrizes. Provavelmente perto da Postdamer Platz, 2015.
O que restou do Muro, de fato, é o memorial chamado Topographie des Terrors (Topografia do Terror), exatamente em frente onde ficava a sede da Gestapo. Mesmo que memórias reeditadas fiquem mais organizadas e ganhem um certo verniz, a atmosfera mantinha seu horror. Apesar de um sol bonito ainda brilhando às oito da noite no verão berlinense.


Topographie des Terrors, 2015.
Estes painéis mostram a história desde a conjuntura política pós-Primeira Guerra (República de Weimar) até a ascensão e queda do Nazismo. (Sim, fiz a turista louca e tirei foto de quase tudo, mas também eu li.) E o que estes painéis me mostraram? O quão estamos próximos, aqui no Brasil, deste clima que favoreceu o surgimento do Nazismo, na Alemanha. E depois, nas aulas sobre Currículo e Formação de Professores, ministrado pelo meu orientador, Prof. Palma, ele cita um livro (ou uma coleção, não sei ao certo, mas provavelmente este), em que diz que a educação escolar autoritária durante a República de Weimar foi fermento na massa do regime nazista. (Encontrei uma referência aqui também).


O antigo muro, agora protegido por grades. Virou “peça de museu”...
Esta citação ao muro de Berlim é para mostrar como ele ainda pode existir, apesar da tentativa em envidraça-lo e fazer dele acervo do mundo. (Aliás, como ainda está existindo, atualizado na forma dos muros levantados nas fronteiras para barrar os refugiados que tentam se salvar na Europa, por exemplo), e para refletir sobre como a Educação pode ajudar a construir estes muros.
...E também como pode destruí-los, em que pese a Ocupação das Escolas pelxs estudantes secundaristas da Rede Estadual de São Paulo, movimento este que soube usar os muros da escola a seu favor.
Sonhando com uma vida sem muros, apesar de ainda estar aprendendo a lidar com eles. Por enquanto, estou estudando suas fissuras, por onde algum vento de transformação pode soprar.

 

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